quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

GLOSSÁRIO DE LINGUÍSTICA

Ponto em que um enunciado rompe com a estrutura vigente, instaurando um novo processo discursivo. O acontecimento inaugura uma nova forma de dizer, estabelecendo um marco inicial de onde uma nova rede de dizeres possíveis irá emergir.
AFASIA
Afasias são perturbações da comunicação verbal, sem déficit intelectual, que podem ocorrer na emissão e/ou a recepção dos signos verbais, orais ou escritos.
AGRAMATISMO
Aspecto lingüístico particular da afasia de expressão. Caracteriza-se pela supressão quase constante dos morfemas gramaticais como preposições, artigos, pronomes sujeitos, desinências verbais; e redução das frases apenas à sequência dos morfemas léxicos.
ALEXIA
Alexia ou cegueira verbal é uma perturbação da leitura devida a uma lesão cortical da área posterior da zona da linguagem, sem que ocorram perturbações do aparelho visual.
ALOGRAFE
Na escrita, alografe é a representação concreta ou uma das representações concretas do grafema, ou seja, do elemento abstrato.
ALOMORFE
Dá-se o nome de morfema à unidade significativa mínima de uma língua; chamam-se alomorfes as variantes desse morfema em função do contexto.
ALOFONE
Alofones de um fonema são as realizações deste repartidas na cadeia falada, de tal forma que nenhuma delas jamais aparece no mesmo contexto que outra: o fonema é então definido como uma abstração.
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
No estudo do desenvolvimento da linguagem nas crianças, o termo refere-se ao processo ou resultado do aprendizado de um determinado aspecto da língua, e à língua como um todo.

ALTERIDADE
Termo cunhado por Lacan para explicar a dualidade do sujeito. Vincula-se às produções formuladas a respeito da função do Eu e à complexa estrutura aí presente, envolvendo os conceitos do outro (pequeno) e o Outro (grande). O Eu não se encontra como uma forma fechada em si, mas tem relação com um exterior que o determina. Trata-se do sujeito descentrado: um mesmo sujeito é, efetivamente, outro (Courtine & Haroche, 1988). Lacan aborda esta questão detalhadamente no texto “O estágio do espelho como formador da função do eu”, de 1949.

ANÁLISE DO DISCURSO
É uma disciplina de entremeio (Orlandi, 1996) que se estrutura no espaço que há entre a lingüística e as ciências das formações sociais. Trabalha com as relações de contradição que se estabelecem entre essas disciplinas, caracterizando-se, não pelo aproveitamento de seus conceitos, mas por repensá-los, questionando, na lingüística, a negação da historicidade inscrita na linguagem e, nas ciências das formações sociais, a noção de transparência da linguagem sobre a qual se assentam as teorias produzidas nestas áreas. A AD nos permite trabalhar em busca dos processos de produção do sentido e de suas determinações histórico-sociais. Isso implica o reconhecimento de que há uma historicidade inscrita na linguagem que não nos permite pensar na existência de um sentido literal, já posto, e nem mesmo que o sentido possa ser qualquer um, já que toda interpretação é regida por condições de produção. Essa disciplina propõe um deslocamento das noções de linguagem e sujeito que se dá a partir de um trabalho com a ideologia. Assim, passa-se a entender a linguagem enquanto produção social, considerando-se a exterioridade como constitutiva. O sujeito, por sua vez, deixa de ser centro e origem do seu discurso para ser entendido como uma construção polifônica, lugar de significação historicamente constituído.
ARBITRARIEDADE
Propriedade da linguagem humana segundo a qual as formas lingüísticas aparentemente não apresentam nenhuma correspondência física com as entidades do mundo real a que se referem.
ARTICULAÇÃO
Termo geral da Fonética que indica os movimentos fisiológicos envolvidos na passagem do ar, modificando-a para produzir os vários tipos de sons da fala usando os órgãos do aparelho fonador, acima da laringe.

ASSUJEITAMENTO
Movimento de interpelação dos indivíduos por uma ideologia, condição necessária para que o indivíduo torne-se sujeito do seu discurso ao, livremente, submeter-se às condições de produção impostas pela ordem superior estabelecida, embora tenha a ilusão de autonomia. Para Althusser, os indivíduos vivem na ideologia, não havendo, portanto, uma separação entre a existência da ideologia e a interpelação do sujeito por ela, o que ocorre é um movimento de dupla constituição: se o sujeito só se constitui através do assujeitamento é pelo sujeito que a ideologia torna-se possível já que, ao entendê-la como prática significante, concebe-se a ideologia como a relação entre sujeito, língua e história na produção dos sentidos (Orlandi, 1999).
ATO DA FALA
Atividade comunicativa definida com relação às intenções do falante durante a conversação e aos efeitos produzidos sobre o ouvinte.

AUTOR
Uma das posições assumidas pelo sujeito (ver posição-sujeito) no discurso, sendo ela a mais afetada pela exterioridade (condições sócio-históricas e ideológicas) e pelas exigências de coerência, não-contradição e responsabilidade. Ao se converter em autor, o sujeito da enunciação sofre um apagamento no discurso, dividindo-se em diversas posições-sujeito; ou seja, o autor é que assume a função social de organizar e assinar uma determinada produção escrita, dando-lhe a aparência de unicidade (efeito ideológico elementar). Foucault (1987) fala em princípio de autoria, uma vez que se trata de considerar o autor não como um indivíduo inserido num determinado contexto histórico-social (sujeito em si), mas como uma das funções enunciativas que este sujeito assume enquanto produtor de linguagem.
AXIOMA
Conjunto das fórmulas corretas, mas não demonstradas, de um sistema ou de uma teoria lingüística.
BEHAVIORISMO
Teoria psicológica que explica os fenômenos mentais, analisando apenas os comportamentos observáveis e reduzindo-os a respostas a situações, sendo essas últimas definidas como estímulos que provocam as respostas. Aplicado à Lingüística, o behaviorismo reduz a comunicação ao esquema E-R (estímulo-resposta).

COERÊNCIA
Elemento temático constitutivo de um texto que se estabelece na interlocução e faz com que o texto tenha sentido (Lingüística Textual). Pode-se dizer que a coerência é, antes de mais nada, um princípio de interpretabilidade, uma possibilidade de se estabelecer uma unidade ou relação de sentido no texto. O reconhecimento de elementos de coerência em um texto depende do conhecimento prévio do leitor (conhecimento de mundo). Para a AD, este conceito, tal como é concebido na perspectiva textual, é restrito, pois dá conta apenas dos elementos textuais e não dos discursivos.

COESÃO
Elemento temático constitutivo de um texto que dá conta da estruturação da seqüência superficial do texto e é, portanto, representado por elementos formais (conectores, seqüenciadores, argumentadores, marcadores temporais, etc) (Lingüística textual). Esta forma de compreensão da coesão não interessa à AD por restringir a análise à superfície do texto e não envolver, portanto, os efeitos de sentido.
COMENTÁRIO
Parte do enunciado que acrescenta algo de novo ao tema, que informa sobre ele, em oposição ao tópico, que é o sujeito do discurso, o elemento dado pela situação, pela pergunta do interlocutor e que é o objeto do discurso.
COMPETÊNCIA
Na terminologia da Gramática Gerativa, competência é o sistema de regras interiorizado pelos falantes e que constitui o seu saber lingüístico, graças ao qual são capazes de pronunciar ou de compreender um número infinito de frases inéditas.

CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO
São responsáveis pelo estabelecimento das relações de força no interior do discurso e mantêm com a linguagem uma relação necessária, constituindo com ela o sentido do texto. As condições de produção fazem parte da exterioridade lingüística e podem ser agrupadas em condições de produção em sentido estrito (circunstâncias de enunciação) e em sentido amplo (contexto sócio-histórico-ideológico), segundo preconiza Orlandi (1999).
CONTEÚDO
Toda mensagem comporta uma face expressiva e significa alguma coisa. O conteúdo é a face abstrata da mensagem, o seu aspecto conceitual, o assunto da mensagem.

CONTEXTO
Elementos externos ao texto que servem para ampliar a sua significação global. O contexto envolve a situação comunicativa em que o texto é produzido, indo além do que é dito e escrito (Lingüística Textual). Na AD, este conceito é revisto, já que para a teoria discursiva a exterioridade não está fora do discurso, mas é dele constitutiva, sendo englobado pela noção de condições de produção.lugar de significação historicamente constituído.

DADO (VER FATO)
Objeto empírico da linguagem, quantitativo, constatável, que permite ao analista colocar a língua como foco central da análise. Trabalhar com o dado significa revelar uma preocupação com o produto e não com os processos de produção de um discurso. Para a AD, não existem dados enquanto tal, uma vez que eles precisam do fato, do acontecimento, para significar.
DÊIXIS
Termo usado na teoria lingüística englobando as características de pessoa, tempo e lugar de uma língua, vistas dentro de uma situação espaço-temporal de um enunciado relacionado à sua significação.
DIACRONIA
Diacronia é o termo adotado pelo lingüista suíço Ferdinand de Saussure para designar a transmissão de uma língua, de geração em geração, através do tempo, sofrendo ela nesse transcurso mudanças em todos os níveis, cujo conjunto constitui a evolução lingüística. O estudo diacrônico é assim a história interna da língua, compreendendo a Gramática Histórica, a Semântica Histórica e a História do Léxico.
DIALETO
Variante de uma língua, distinta em termos sociais ou regionais e identificada por um conjunto particular de palavras e estruturas gramaticais. Os dialetos falados costumam também ser associados a uma pronúncia característica, ou sotaque.
DIALOGISMO
É o que Mikhail Bakhtin define como o processo de interação entre textos que ocorre na polifonia; tanto na escrita como na leitura, o texto não é visto isoladamente, mas sim correlacionado com outros discursos similares e/ou próximos. Em retórica, por exemplo, é mister incluir no discurso argumentos antagônicos para poder refutá-los.
Dialogismo se da à partir da noção de recepção/compreensão de uma enunciação o qual constitue um território comum entre o locutor e o locutário. Pode se dizer que os interlocutores ao colocarem a linguagem em relação frente um a outro produzem um movimento dialógico.

DISCURSO
Objeto teórico da AD (objeto histórico-ideológico), que se produz socialmente através de sua materialidade específica (a língua); prática social cuja regularidade só pode ser apreendida a partir da análise dos processos de sua produção, não dos seus produtos. O discurso é dispersão de textos e a possibilidade de entender o discurso como prática deriva da própria concepção de linguagem marcada pelo conceito de social e histórico com a qual a AD trabalha. É importante ressaltar que essa noção de discurso nada tem a ver com a noção de parole/fala referida por Saussure.
Na sua acepção lingüística moderna, o termo discurso designa todo enunciado superior a uma frase, considerado do ponto de vista das regras de encadeamento das seqüências de frases.

EFEITOS DE SENTIDO
Diferentes sentidos possíveis que um mesmo enunciado pode assumir de acordo com a formação discursiva na qual é (re)produzido. Esses sentidos são todos igualmente evidentes por um efeito ideológico que provoca no gesto de interpretação a ilusão de que um enunciado quer dizer o que realmente diz (sentido literal). É importante registrar que Pêcheux (1969) define discurso como efeito de sentido entre interlocutores.

ENUNCIAÇÃO
Processo de reformulação de um enunciado através do qual ele é posto em funcionamento, surgindo como uma de suas possíveis formas de atualização. Os processos de enunciação consistem em uma série de determinações sucessivas, pelas quais o enunciado se constitui pouco a pouco e que têm como característica colocar o "dito" e, em conseqüência, rejeitar o não- dito.
Enunciado
Unidade constitutiva do discurso que nunca se repete da mesma maneira (ver
paráfrase e polissemia), já que a sua função enunciativa muda de acordo com as condições de produção. É a partir dos enunciados, portanto, que podemos identificar as diferentes posições assumidas pelo sujeito no discurso (ver posição-sujeito).

EQUÍVOCO
Marca de resistência que afeta a regularidade do sistema da língua, este conceito surge da forma como a língua é concebida na AD (enquanto materialidade do discurso, sistema não-homogêneo e aberto). Algumas de suas manifestações são as falhas, lapsos, deslizamentos, mal-entendidos, ambigüidades, que fazem parte da língua e representam uma marca de resistência e uma diferenciação em relação ao sistema. Dizemos, com Pêcheux (1988), que todo o enunciado pode sempre tornar-se outro, uma vez que seu sentido pode ser muitos, mas não qualquer um.
ESTRUTURA PROFUNDA/ESTRUTURA REMOTA
Termo usado na Gramática Gerativa para se referir à representação sintática abstrata de uma sentença, isto é, um nível subjacente de organização estrutural que especifica todos os fatores que regem a maneira como uma sentença deve ser interpretada.
ESTRUTURA SUPERFICIAL
Estágio final da representação sintática de uma sentença, a cadeia do componente fonológico da gramática, e que corresponde à estrutura de uma sentença como a articulamos e ouvimos.
ESTRUTURALISMO
Termo usado na Lingüística para nomear qualquer abordagem de análise da língua que focalize os traços lingüísticos como estruturas e sistemas.

FATO
Dado provido de sentido que se produz como um objeto da ordem do discurso e nos conduz à memória discursiva. A concepção de fato traz para os estudos da linguagem a possibilidade de trabalhar com os processos de produção dos discursos, já que nos remete, não à evidência dos dados empíricos, e sim aos acontecimentos histórico-sociais em torno dos quais se funda um discurso. Todo fato, para se constituir como tal, precisa ter algo de empírico em si.
FONE
Termo usado na Fonética para indicar o menor segmento discreto perceptível de som em uma corrente da fala.
FONEMA
De acordo com as teorias fonológicas tradicionais, a unidade mínima do sistema de sons de uma língua.
FONÉTICA
Ciência que estuda as características do som humano, especialmente quando usados na fala, e que fornece métodos para sua descrição, classificação e transcrição.
FONÉTICA ACÚSTICA
Ramo da Fonética, também conhecido como Acústica, que estuda as propriedades físicas dos sons, à medida que vão sendo transmitidos entre a boca e o ouvido.
FONÉTICA ARTICULATÓRIA
Ramo da Fonética que estuda a maneira como os sons da fala são produzidos ou articulados pelos órgãos da fala.
FONOLOGIA
Ramo da Lingüística que estuda os sistemas de sons das línguas.
FORMA LIVRE/MORFEMA LIVRE
Unidade gramatical mínima que pode ser usada como palavra sem a necessidade de mais modificações morfológicas.

FORMA-SUJEITO
É a forma pela qual o sujeito do discurso se identifica com a formação discursiva que o constitui. Esta identificação baseia-se no fato de que os elementos do interdiscurso, ao serem retomados pelo sujeito do discurso, acabam por determiná-lo. Também chamado de sujeito do saber, sujeito universal ou sujeito histórico de uma determinada formação discursiva, a forma-sujeito é responsável pela ilusão de unidade do sujeito.

FORMAÇÃO DISCURSIVA (FD)
Manifestação, no discurso, de uma determinada formação ideológica em uma situação de enunciação específica. A FD é a matriz de sentidos que regula o que o sujeito pode e deve dizer e, também, o que não pode e não deve ser dito (Courtine, 1994), funcionando como lugar de articulação entre língua e discurso. Uma FD é definida a partir de seu interdiscurso e, entre formações discursivas distintas, podem ser estabelecidas tanto relações de conflito quanto de aliança. Esta noção de FD deriva do conceito foulcaulteano (1987) que diz que sempre que se puder definir, entre um certo número de enunciados, uma regularidade, se estará diante de uma formação discursiva. Na AD este conceito é reformulado e aparece associado à noção de formação imaginária.

FORMAÇÃO IDEOLÓGICA (FI)
Conjunto complexo de atitudes e de representações, não individuais nem universais, que se relacionam às posições de classes em conflito umas com as outras. A FI é um elemento suscetível de intervir como uma força em confronto com outras forças na conjuntura ideológica característica de uma formação social. Pêcheux (1975) afirma que as palavras, expressões, proposições, mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam, sentidos esses que são determinados, então, em referência às formações ideológicas nas quais se inscrevem estas posições (ver formação discursiva).

FORMAÇÃO IMAGINÁRIA
A partir do conceito lacaniano de imaginário, Pêcheux (1975) define que as formações imaginárias sempre resultam de processos discursivos anteriores. As formações imaginárias se manifestam, no processo discursivo, através da antecipação, das relações de força e de sentido. Na antecipação, o emissor projeta uma representação imaginária do receptor e, a partir dela, estabelece suas estratégias discursivas. O lugar de onde fala o sujeito determina as relações de força no discurso, enquanto as relações de sentido pressupõem que não há discurso que não se relacione com outros. O que ocorre é um jogo de imagens: dos sujeitos entre si, dos sujeitos com os lugares que ocupam na formação social e dos discursos já-ditos com os possíveis e imaginados. As formações imaginárias, enquanto mecanismos de funcionamento discursivo, não dizem respeito a sujeitos físicos ou lugares empíricos, mas às imagens resultantes de suas projeções.

FORMAÇÃO SOCIAL
Espaço a partir do qual se pode prever os efeitos de sentido a serem produzidos. Para a AD as posições que os sujeitos ocupam em uma dada formação social condicionam as condições de produção discursivas, definindo o lugar por eles ocupado no discurso. Ao funcionamento das formações sociais está articulado o funcionamento da ideologia, relacionado à luta de classes e às suas motivações econômicas.
GRAMÁTICA DESCRITIVA
Descrição de uma língua da forma como ela é encontrada em amostras da fala e da escrita.
GRAMÁTICA GERATIVA
Conjunto de regras formais que projeta um conjunto finito de sentenças sobre o conjunto potencialmente infinito de sentenças que constituem a língua como um todo.
GRAMATICAL
Na Lingüística, o termo indica a característica de uma sentença quando esta se adequa às regras definidas por uma determinada gramática ou língua.
GRAMÁTICA UNVIVERSAL
As pesquisas que não se concentram apenas no estudo de línguas separadas, mas tentam estabelecer as características universais da linguagem humana em geral, têm como meta uma gramática universal.

HETEROGENEIDADE DISCURSIVA
Termo utilizado pela AD para destacar que todo discurso é atravessado pelo discurso do outro ou por outros discursos. Estes diferentes discursos mantêm entre si relações de contradição, de dominação, de confronto, de aliança e/ou de complementação. Authier (1990) distingue duas ordens de heterogeneidade: (1) a heterogeneidade constitutiva do discurso (que esgota a possibilidade de captar lingüisticamente a presença do outro no um e (2) a heterogeneidade mostrada no discurso (que indica a presença do outro no discurso do locutor). A heterogeneidade mostrada, por sua vez, ainda segundo a autora, divide-se em duas modalidades: a marcada, da ordem da enunciação e visível na materialidade lingüística; e a não-marcada, da ordem do discurso e não provida de visibilidade.
HIPERCORREÇÃO
Termo usado na Lingüística quando uma forma lingüística vai além do ponto estabelecido pela variante de língua que o falante tem como meta, ou seja, quando os falantes de um dialeto não padrão tentam usar o dialeto padrão e vão longe demais, produzindo uma versão inexistente no padrão.

HISTÓRIA
Produção de sentidos que se define por sua relação com a linguagem. A história organiza-se a partir das relações com o poder e está ligada não à cronologia, mas às práticas sociais. Para a AD, todo o fato ou acontecimento histórico significa, precisa ser interpretado, e é pelo discurso que a história deixa de ser apenas evolução.

HISTORICIDADE
Modo como a história se inscreve no discurso, sendo a historicidade entendida como a relação constitutiva entre linguagem e história. Para o analista do discurso, não interessa o rastreamento de dados históricos em um texto, mas a compreensão de como os sentidos são produzidos. A esse trabalho dos sentidos no texto e à inscrição da história na linguagem é que se dá o nome de historicidade.

IDEOLOGIA
Elemento determinante do sentido que está presente no interior do discurso e que, ao mesmo tempo, se reflete na exterioridade, a ideologia não é algo exterior ao discurso, mas sim constitutiva da prática discursiva. Entendida como efeito da relação entre sujeito e linguagem, a ideologia não é consciente, mas está presente em toda manifestação do sujeito, permitindo sua identificação com a formação discursiva que o domina. Tanto a crença do sujeito de que possui o domínio de seu discurso, quanto a ilusão de que o sentido já existe como tal, são efeitos ideológicos.
IDIOLETO
Termo usado na Lingüística para caracterizar o sistema lingüístico de um falante individual, ou seja, o seu dialeto pessoal.

INTERDISCURSIVIDADE
Relação de um discurso com outros discursos; vozes discursivas outras que se manifestam em um dado discurso e interferem no seu sentido. Estes discursos alheios penetram no discurso em estudo, interferindo assim no seu sentido. Esta noção está ligada, portanto, à noção de heterogeneidade discursiva, de formação discursiva e de pré-construído.

INTERDISCURSO
Compreende o conjunto das formações discursivas e se inscreve no nível da constituição do discurso, na medida em que trabalha com a re-significação do sujeito sobre o que já foi dito, o repetível, determinando os deslocamentos promovidos pelo sujeito nas fronteiras de uma formação discursiva. O interdiscurso determina materialmente o efeito de encadeamento e articulação de tal modo que aparece como o puro "já-dito".

INTERPRETAÇÃO
Gesto de leitura de um fato, presente em toda manifestação da linguagem, através do qual a significação é produzida. A interpretação é uma injunção; diante de qualquer objeto simbólico somos obrigados a interpretar, temos a necessidade de atribuir sentido. Por um efeito ideológico, a interpretação se apaga no momento mesmo de sua realização, dando-nos a ilusão de que é transparente, de que o sentido já existia como tal. Essa transparência é uma ilusão, na medida em que o fato de o sentido ser um e não outro é definido pelas condições de produção em que se dá o movimento interpretativo. Tanto o cerne do gesto de interpretação, quanto sua eficácia ideológica se devem à relação dos fatos e do sujeito com a significação, uma vez que os fatos reclamam sentido e o sujeito tem necessidade de atribuí-lo. A interpretação não é mero gesto de decodificação, de apreensão de sentidos; interpretar é expor-se à opacidade do texto, é explicitar o modo como um objeto simbólico produz sentidos. (Orlandi, 1996) A interpretação sempre pode ser outra, mas o movimento interpretativo não é um movimento caótico, não regido. As condições de produção e a própria possibilidade de abertura impõem determinações, limites a esse movimento, o que significa dizer que a interpretação pode ser múltipla, mas não qualquer uma.

INTRADISCURSO
Simulacro material do interdiscurso, na medida em que fornece-impõe a "realidade" ao sujeito, matéria-prima na qual o indivíduo se constitui como sujeito falante numa determinada formação discursiva que o assujeita (ver
assujeitamento). Ao pensarmos o discurso como uma teia a ser tecida podemos dizer que o intradiscurso é o "fio do discurso" de um sujeito; a rigor, é um efeito do interdiscurso sobre si mesmo, uma vez que incorpora, no eixo sintagmático (linear), a relação de possibilidade de substituição entre elementos (palavras, expressões, proposições), como se esses elementos, assim encadeados entre si, tivessem um sentido evidente, literal. O que está em evidência, no intradiscurso, é a formulação de um discurso a partir da realidade presente.

LEITOR
Uma das posições que o sujeito assume no discurso. Todo sujeito move-se em um discurso guiado pela relação que construiu com os textos lidos em sua história de leitor, ou seja, constituindo-se dentro de uma memória social de leitura. Assim, ao ser colocado diante de um discurso, o sujeito leitor está sendo impelido a interpretá-lo (ver
interpretação), e esse movimento de leitura estará necessariamente vinculado às condições sócio-histórico-ideológicas que o envolvem e que determinam tanto o leitor e sua formação, quanto a leitura a ser feita por este sujeito.

LEITURA
Caminho material para se chegar à interpretação; prática discursiva, não-subjetiva, em que um sujeito-leitor, inscrito numa determinada formação discursiva, ao entrar em contato com um texto escrito, (re)constrói os sentidos dos enunciados e, assim sendo, se engaja automaticamente na dinâmica do processo social de produção de sentidos (ver
memória discursiva). É essa circulação de sentidos que, por um lado, assegura o já-dito e, por outro, abre espaço para a irreverência, a ruptura, uma vez que, pela sua natureza e especificidade, a leitura tende a ser múltipla, plural, ambígua por si própria.
LEXEMA
Termo usado por alguns lingüistas com referência à unidade distintiva mínima no sistema semântico de uma língua.
LÉXICO
No sentido mais geral, o termo é sinônimo de vocabulário. Na Gramática Gerativa, refere-se ao componente que contém todas as informações sobre as propriedades estruturais dos itens lexicais de uma língua, ou seja, sua especificação semântica, sintática e fonológica.

LÍNGUA
Condição de possibilidade de um discurso, materialidade ao mesmo tempo lingüística e histórica, produto social que resulta de um trabalho com a linguagem no qual coincidem o histórico e o social. No âmbito discursivo, a língua é reconhecida por sua opacidade e pela forma como nela intervém a sistematicidade e o imaginário (ver
formação imaginária), aparecendo o equívoco como elemento constitutivo da mesma.
No sentido mais corrente, um instrumento de comunicação, um sistema de signos vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade. Para F. de Saussure, a escola de Praga e o estruturalismo americano, língua é um sistema de relações, ou seja, um conjunto de sistemas ligados um aos outros, cujos elementos não têm nenhum valor independentemente das relações de equivalência e de oposição que os unem.
LÍNGUA FRANCA
Expressão usada na Sociolingüística indicando uma língua auxiliar usada para permitir que grupos de pessoas falantes de línguas nativas diferentes possam estabelecer uma comunicação de rotina.

LINGUAGEM
Ação transformadora, trabalho (ainda que simbólico), produção social, interação, na medida em que se define na relação necessária entre o indivíduo e a exterioridade. A linguagem é um dos elementos constitutivos do processo discursivo o qual se dá sob determinadas condições histórico-sociais e ideológicas.
Capacidade específica da espécie humana de se comunicar por meio de um sistema de signos vocais, ou língua, que coloca em jogo uma técnica corporal complexa e supõe a existência de uma função simbólica e de centro nervosos geneticamente especializados.
LINGUÍSTICA APLICADA
Ramo da Lingüística que se interessa basicamente pela aplicação de teorias, métodos e descobertas lingüísticas na elucidação dos problemas de língua surgidos em outras áreas da experiência (Tradução e Ensino de Língua Estrangeira, entre outras).
LINGUÍSTICA GERAL
Lingüística caracterizada pela aplicabilidade universal da teoria ou método lingüístico no estudo das línguas, englobando os conceitos teóricos, descritivos e comparativos.
LINGUÍSTICA HISTÓRICA/GRAMÁTICA HISTÓRICA
Ramo da Lingüística que estuda o desenvolvimento das línguas no decorrer do tempo.
MACROLINGUÍSTICA
Termo usado por alguns lingüistas, especialmente na década de 1950, para identificar uma concepção muito ampla da pesquisa na Lingüística, em que ela é vista em sua relação global com a Fonética e a experiência extralingüística.

MEMÓRIA DISCURSIVA
Possibilidades de dizeres que se atualizam no momento da enunciação, como efeito de um esquecimento correspondente a um processo de deslocamento da memória como virtualidade de significações. A memória discursiva faz parte de um processo histórico resultante de uma disputa de interpretações para os acontecimentos presentes ou já ocorridos (Mariani, 1996). Courtine & Haroche (1994) afirmam que a linguagem é o tecido da memória. Há uma memória inerente à linguagem e os processos discursivos são responsáveis por fazer emergir o que, em uma memória coletiva, é característico de um determinado processo histórico. Orlandi (1993) diz que o sujeito toma como suas as palavras de uma voz anônima que se produz no interdiscurso, apropriando-se da memória que se manifestará de diferentes formas em discursos distintos.
MENTALISMO
Escola de pensamento que acredita que os processos e estados mentais existem independentemente de suas manifestações de comportamento, e que podem explicar o comportamento.
MICROLINGUÍSTICA
Termo usado por alguns lingüistas, especialmente na década de 1950, para indicar as áreas mais importantes da Lingüística, especialmente a Fonologia, a Morfologia e a Sintaxe, que constituiriam campos de estudo bem definidos.
MORFEMA
Unidade mínima distintiva da gramática, e principal objeto de estudos da Morfologia.
MORFOLOGIA
Ramo da Gramática que estuda a estrutura ou as formas das palavras, principalmente por meio de construções com morfemas.
MORFOFONÊMICA/MORFOFONOLOGIA
Ramo da Lingüística que se preocupa em analisar e classificar os fatores fonológicos que afetam a aparência dos morfemas, ou vice-versa, os fatores gramaticais que afetam a aparência dos fonemas.
MORFOSSINTAXE
Estudo das propriedades ou categorias gramaticais que podem ser definidas por critérios tanto morfológicos quanto sintáticos, como na descrição das características das palavras.
NEOGRAMÁTICO
Adepto ou característico dos princípios da escola de pensamento de Filologia Comparada, iniciada pelos estudiosos alemães K. Brugmann e S. A. Leskien, no século XIX. Sua principal teoria era a de que as leis dos sons admitem exceções.
PARADIGMA
Termo básico da Lingüística usado para o conjunto de relações que uma unidade lingüística tem com outras unidades em um contexto específico. Na Psicolingüística, o termo é usado com referência a uma classe de respostas associativas das pessoas ao ouvirem uma palavra de estímulo, ou seja, as respostas que recaem nas mesmas classes de palavras que o estímulo.

PARÁFRASE
Processo de efeitos de sentido que se produz no interdiscurso, retorno ao já-dito na produção de um discurso que, pela legitimação deste dizer, possibilita sua previsibilidade e a manutenção no dizer de algo que é do espaço da memória (ver
memória discursiva).A paráfrase é responsável pela produtividade na língua, pois, ao proferir um discurso, o sujeito recupera um dizer que já está estabelecido e o reformula, abrindo espaço para o novo. Essa tensão entre a retomada do mesmo e a possibilidade do diferente desfaz a dissociação entre paráfrase e polissemia.
Resultado ou processo de produzir versões alternativas de uma sentença ou texto sem alterar o significado.
PAROLE
Termo introduzido pelo lingüista Ferdinand de Saussure para distinguir entre este termo, de um lado, e linguagem e língua, de outro. São os enunciados concretos produzidos por um falante individual em situações reais, em oposição à língua, ou seja, o sistema de língua coletivo de uma comunidade de fala.
PERFORMANCE/DESEMPENHO
Noção da Gramática Gerativa, que vê a língua como um conjunto de enunciados específicos produzidos por falantes nativos, opondo-se à concepção idealizada de língua, conhecida como competência.
POLIFONIA
Em linguística, polifonia é, segundo Mikhail Bakhtin a presença de outros textos dentro de um texto, causada pela inserção do autor num contexto que já inclui previamente textos anteriores que lhe inspiram ou influenciam. A polifonia é um fenômeno também identificado como heterogeneidade enunciativa, que pode ser mostrada (no caso de citações de outros autores em obras acadêmicas, por exemplo) ou constitutiva (como a influência de dramaturgos clássicos em Shakespeare, que não é mencionada diretamente, mas transparecida).
Bakhtin usa o conceito de polifonia para definir a forma de um tipo de romance que se contrapõe ao romance monológico. Os textos que serviram de base às suas reflexões acerca desta temática são os de
Fjodor Dostojevski.
Romance polifônico é aquele em que cada personagem funciona como um ser autônomo com visão de mundo, voz e posição própria no mundo. A professofa Carol do Ribas Junior foi uma das teóricas mais citadas nesse tipo de estudo.

POLISSEMIA
Deslocamento, ruptura, emergência do diferente e da multiplicidade de sentidos no discurso. Processo de linguagem que garante a criatividade na língua pela intervenção do diferente no processo de produção da linguagem, permitindo o deslocamento das regras e fazendo resultar em movimentos que afetam o sujeito e os sentidos na sua relação com a história e a língua (Orlandi, 1999). Essa possibilidade do novo criada pela polissemia é a própria razão de existência da linguagem, já que a necessidade do dizer é fruto da multiplicidade dos sentidos. São os processos polissêmicos que garantem que um mesmo objeto simbólico passe por diferentes processos de re-significação.
PONTO DE ARTICULAÇÃO
Um dos principais parâmetros na classificação fonética dos sons da fala, e refere-se ao local no aparelho fonador em que um som é produzido.

POSIÇÃO-SUJEITO
Resultado da relação que se estabelece entre o sujeito do discurso e a forma-sujeito de uma dada formação discursiva. Uma posição-sujeito não é uma realidade física, mas um objeto imaginário, representando no processo discursivo os lugares ocupados pelos sujeitos na estrutura de uma formação social. Deste modo, não há um sujeito único mas diversas posições-sujeito, as quais estão relacionadas com determinadas formações discursivas e ideológicas.
PRAGMÁTICA
Estudo da língua do ponto de vista dos usuários, em especial as escolhas feitas, as restrições encontradas ao usar a língua em interação social e o efeito de seu uso sobre outros participantes em um ato de comunicação.

PRÉ-CONSTRUÍDO
Enunciado simples proveniente de discursos outros, anteriores, "como se esse elemento já se encontrasse sempre-aí por efeito da interpelação ideológica"(Pêcheux, 1975). Essa formulação de um já-dito assertado em outro lugar permite a incorporação de pré-construídos à FD, concebida como um domínio de saber fechado, fazendo-a relacionar-se com seu exterior.
PRESCRITIVO
Termo usado pelo lingüistas para caracterizar qualquer abordagem que tente colocar regras de correção sobre como a língua deve ser usada.
PROSCRITIVO
Termo usado pelos lingüistas para caracterizar qualquer abordagem que tente estabelecer regras de correção, enfatizando como a língua não deve ser usada.

REAL DA LÍNGUA
Impossibilidade de se dizer tudo na língua, série de pontos do impossível, lugar do inconsciente de onde o sujeito fala o que não pode ser dito. O termo real da língua é designado em francês como "lalangue", o que corresponde, em português, a "alíngua". Essa distinção terminológica expressa de um modo singular, já na grafia, a diferença existente entre a noção de língua, que é da ordem do todo, do possível, e a noção do real da língua (alíngua), que é da ordem do não-todo, do impossível, inscrito igualmente na língua. Esse termo veio da psicanálise, trazido por Lacan, e foi desenvolvido na lingüistica, sobretudo por Milner (1987), numa tentativa de nomear aquilo que escapa à univocidade inerente a qualquer nomeação, apontando para o registro que, em toda a língua, a consagra ao equívoco. Na perspectiva teórica do discurso, torna-se fundamental uma concepção de língua afetada pelo Real, pois isso vai permitir operar com um conceito de língua que reconheça o equívoco como fato estrutural constitutivo e implicado pela ordem do simbólico. (Pêcheux, 1988)
REALIZAÇÃO
A expressão física de uma unidade lingüística abstrata. Os fonemas são realizados em substância fônica como fones, e os morfemas, como morfes.

SENTIDO
O sentido de uma palavra, expressão, proposição não existe em si mesmo, só pode ser constituído em referência às condições de produção de um determinado enunciado, uma vez que muda de acordo com a formação ideológica de quem o (re)produz, bem como de quem o interpreta. O sentido nunca é dado, ele não existe como produto acabado, resultado de uma possível transparência da língua, mas está sempre em curso, é movente e se produz dentro de uma determinação histórico-social, daí a necessidade de se falar em efeitos de sentido.
SIGNO
Expressões lingüísticas, como palavras ou sentenças, das entidades, dos acontecimento ou dos conceitos envolvidos a que remetem.
SINTAGMA
Termo usado na análise gramatical com referência a um elemento ou estrutura com mais de uma palavra, mas sem a estrutura de sujeito-predicado típica das orações.

SUBJETIVIDADE
Enquanto na Teoria da Enunciação (TE) o Eu é considerado sujeito e centro de toda enunciação, na AD a subjetividade se desloca do eu e passa a ser vista como inerente a toda linguagem, constituindo-se, portanto, mesmo quando este eu não é enunciado. Para a teoria discursiva, o sujeito não é a fonte do sentido, nem o senhor da língua. Despossuído de seu papel central, o sujeito é integrado ao funcionamento do discurso, determinando e sendo determinado tanto pela língua quanto pela história. (Orlandi & Guimarães, 1988)
SUBSTÂNCIA
Refere-se à matéria com a qual a língua é construída, como as ondas de sons da fala e as marcas de escrita.

SUJEITO
Resultado da relação com a linguagem e a história, o sujeito do discurso não é totalmente livre, nem totalmente determinado por mecanismos exteriores. O sujeito é constituído a partir relação com o outro, nunca sendo fonte única do sentido, tampouco elemento onde se origina o discurso. Como diz Leandro Ferreira (2000) ele estabelece uma relação ativa no interior de uma dada FD; assim como é determinado ele também a afeta e determina em sua prática discursiva. Assim, a incompletude é uma propriedade do sujeito e a afirmação de sua identidade resultará da constante necessidade de completude.
TEMA
O primeiro constituinte importante de uma sentença, e refere-se não ao assunto da sentença, mas à maneira como um falante identifica a importância relativa desse assunto.

TEXTO
Unidade de análise do discurso que, enquanto tal, é uma superfície lingüística fechada em si mesma (tem começo, meio e fim). É um objeto empírico, inacabado, complexo de significação; lugar do jogo de sentidos, do trabalho da linguagem, do funcionamento da discursividade. O relevante, no âmbito discursivo, onde o texto é tomado como discurso (enquanto estado determinado de um processo discursivo), é ver como ele organiza a relação da língua com a história na produção de sentidos e do sujeito em sua relação com o contexto histórico-social. Para a AD o texto é dispersão de sujeitos por comportar diversas posições-sujeito que o atravessam e que correspondem a diferentes formações discursivas. A completude do dizer é um efeito da relação do sujeito com o texto, deste com o discurso e da inserção do discurso em uma formação discursiva determinada. Esse movimento é que produz a impressão de unidade e transparência do dizer.
UNIVERSAIS ABSOLUTOS
Propriedades comuns a todas as línguas, sem exceções.
UNIVERSAIS DA LINGUAGEM
Equivale aos traços gerais da linguagem humana, identificados por alguns lingüistas como dualidade, criatividade, reflexividade e deslocamento, e que fornecem uma teoria acerca da faculdade humana da linguagem, ou seja, das propriedades biologicamente necessárias da língua.
UNIVERSAIS FORMAIS
Condições necessárias que devem ser impostas na construção das gramáticas para que estas possam operar. Incluem noções como o número de componentes, tipos de regras, convenções de ordenação e assim por diante.
UNIVERSAIS RELATIVOS
Tendências gerais das línguas, com possíveis exceções, em princípio.
USO
Termo que se refere aos hábitos de fala e escrita de uma comunidade, especialmente quando são apresentados de forma descritiva, com informações sobre as preferências em relação a formas lingüísticas alternativas.
***
REFERÊNCIAS:
http://www.discurso.ufrgs.br/glossario.html (Glossário de Termos do Discurso)
***
Glossário Linguístico:
ALMEIDA FILHO, José Carlos; SCHMITZ, John Robert. Glossário de lingüística aplicada. Campinas: Pontes, 1998. 277 p.
CAMARA JR., J. Mattoso. Dicionário de lingüística e gramática. 23. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 262 p.
CAMARA JR., J. Mattoso. Princípios de lingüística geral. 7. ed. Rio de Janeiro: Padrão Livraria, 1989. 333 p.
CRYSTAL, David. Dicionário de lingüística e fonética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. 275 p.
CRYSTAL, David. The Penguin dictionary of language. 2. ed. Suffolk: Penguin Books, 1999. 390 p.
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de lingüística. São Paulo: Cultrix, 1973. 653 p.
HENKEL, Jacqueline M. The language of criticism: Linguistic models and literary theory. New York: Cornell University Press, 1996. 212 p.
INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 2922 p.
KEHDI, Valter. Formação das palavras em português. São Paulo: Ática, 2001. 69 p.
SAUSSURE, F. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix. 279 p.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

INTERTEXTUALIDADE



















Cindy Sherman começou a fotografar-se em poses estereotipadas e por volta de 1980 iniciou uma série muito interessante a que chamou retratos históricos onde citou pinturas famosas de vários artistas. Neste exemplo Sherman "copiou" uma imagem de Baco pintada por Michelangelo Merisi, vulgo o Caravaggio.


LÍNGUA PORTUGUESA
Olavo Bilac


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


INCULTA E BELA
Marcelo Maciel de Almeida
(Tempus Vernum) - Publicado no Templo XV em 21/7/2004


Já não és mais a mesma flor do Lácio, minha doce Inculta e Bela
Será que reservam-lhe a sepultura?
Tantos empréstimos vão fazendo-te impura...
Mas para que tantas metáforas desgastadas em minha tela?

Conheço pouco de ti, mesmo assim amo-te velada
Para que versos medidos como se fossem matemática,
Pois eu prefiro mesmo é a gramática
E esse enjambement é minha face truncada

Já não tens mais o mesmo viço agreste
Das virgens donzelas da doce Lira romântica de Azevedo
No entanto, amo-te!!! Ou será te amo?

Enriqueceste com tantos empréstimos, com tanto ouro?
Quem disse que és de Camões, povo lusitano?
Gênio é teu povo brasileiro que a ti lhe dá o grande louro!

Observando os dois textos acima, percebemos que há uma relação dialógica entre ambos, ou seja, o texto "Inculta e Bela", da autoria de Marcelo Maciel de Almeida, cita o texto "Língua Portuguesa", de Olavo Bilac. A esse fenômeno, no qual um texto faz referência a um outro, chamamos de intertextualidade.
Grosso modo, pode-se definir a intertextualidade como sendo um "diálogo" entre textos. Esse diálogo pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica na identificação e no reconhecimento de remissões a obras ou a trechos mais ou menos conhecidos. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem dos textos/ contextos em que ela é inserida.
Evidentemente, o
fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento de mundo", que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos.
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
"Quando um texto de caráter científico cita outros textos, isto é feito de maneira explícita. O texto citado vem entre aspas e em nota indica-se o autor e o livro donde se extraiu a citação. Num texto literário, a citação de outros textos é implícita, ou seja, um poeta ou romancista não indica o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a respeito de obras que compõem um determinado universo cultural. Os dados a respeito dos textos literários, mitológicos, históricos são necessários, muitas vezes, para compreensão global de um texto.” (Platão e Fiorin)
Na
pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, já o trabalho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos mais tarde. Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um tipo de intertextualidade na pintura.
Na
publicidade, por exemplo, em um dos anúncios do Bom Bril, o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Leonardo da Vinci e cujo slogan era " Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima". Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e mais perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci). Nesse caso pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc).
Pode-se destacar oito tipos de intertextualidade:
Epígrafe - constitui uma escrita introdutória a outra.
Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas.
Paráfrase - é a reprodução do texto do outro com a palavra do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte.
Paródia - é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Ela perverte o texto anterior, visando à ironia,ou à crítica.
Pastiche - uma recorrência a um gênero.
Tradução - a tradução está no campo da intertextualidade porque implica em recriação de um texto.
Referência e alusão


Referências Biliográficas:
Sítios eletrônicos:
http://www.brasilescola.com/redacao/intertextualidade.htm (Brasil Escola - Redação - Intertextualidade)
http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/181485 (Recanto das Letras - Intertextualidade para Vestibulandos)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Intertextualidade (Wikipedia - Intertextualidade)
Livros:
• Para entender o texto – Platão & Fiorin, Ática
• Literatura Brasileira- Milliam Roberto Cereja , Thereza Cochar Magalhães
• Língua, literatura e produção de textos – José de Nicola

LÍNGUA PORTUGUESA - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO/2009

ESCOLA ESTADUAL PAULO JOSÉ DERENUSSON – "VENCENDO DESAFIOS, CONQUISTANDO VITÓRIAS"

PROF. MARCELO MACIEL DE ALMEIDA

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA DO ENSINO MÉDIO/2009

I- LÍNGUA PORTUGUESA

OBJETIVOS A SEREM ATINGIDOS NAS TRÊS ETAPAS DO ENSINO MÉDIO REFERENTES AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA:

􀂃 Considerar a Língua Portuguesa como fonte de legitimação de acordos e condutas sociais e como representação simbólica de experiências humanas manifestas nas formas de sentir, pensar e agir na vida social.
􀂃 Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de idéias e escolhas).
􀂃 Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes manifestações da linguagem verbal.
􀂃 Compreender e usar a Língua Portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO:

1. Dimensão social da linguagem: variação lingüística.
2. Aspectos semânticos: denotação e conotação.
3. Funções da linguagem: referencial, emotiva, conativa, fática, poética e metalingüística.
4. Figuras de linguagem.
5.Tipos de texto e respectivos princípios organizacionais: narração, descrição, dissertação/argumentação.
6. Tipos de discurso: discurso direto, discurso indireto, discurso indireto livre.
7. Classes de palavras: emprego das mesmas e valor semântico-discursivo.
8. Ortografia oficial e acentuação gráfica em vigor.
9. Pontuação.
10. Textualidade, coesão e coerência.
11. Interpretação de texto.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO SEGUNDO ANO DO ENSINO MÉDIO:

1. Tipos de texto e respectivos princípios organizacionais: narração, descrição, dissertação/argumentação.
2. Classes de palavras: emprego e valor semântico-discursivo.
3. Ortografia oficial e acentuação gráfica em vigor.
4. Pontuação.
5. Termos da oração: termos essenciais, termos integrantes, termos acessórios.
6. Regência: nominal e verbal.
7. Concordância: nominal e verbal.
8. Sintaxe de colocação.
9. Estrutura do período: período simples, período composto por coordenação, período composto por subordinação – valores sintático e semânticodiscursivo.
10. Intertextualidade.
11. Textualidade, coesão e coerência.
12. Interpretação de texto.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO TERCEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO:

1. Tipos de texto e respectivos princípios organizacionais: narração, descrição, dissertação/argumentação.
2. Classes de palavras: emprego e valor semântico-discursivo.
3. Ortografia oficial e acentuação gráfica em vigor.
4. Pontuação.
5. Termos da oração: termos essenciais, termos integrantes, termos acessórios.
6. Regência: nominal e verbal.
7. Concordância: nominal e verbal.
8. Sintaxe de colocação.
9. Estrutura do período: período simples, período composto por coordenação, período composto por subordinação, orações reduzidas e justapostas – valores sintático e semântico-discursivo.
10. Intertextualidade.
11. Textualidade, coesão e coerência.
12. Interpretação de texto.

AVALIAÇÃO DE PRODUÇÃO DE TEXTO NAS TRÊS ETAPAS:

Esta avaliação constará de duas propostas de tema para a produção textual. O candidato deverá escolher, apenas, uma das propostas para desenvolver o texto, o qual deverá obedecer criteriosamente às exigências estabelecidas no enunciado de cada tema.

II- LITERATURA

OBJETIVOS A SEREM ALCANÇADOS NAS TRÊS ETAPAS DO ENSINO MÉDIO REFERENTES AO ENSINO DE LITERATURA:

􀂃 Ler, interpretar e reconhecer as características dominantes de um texto narrativo, lírico ou dramático, em prosa e em verso, e sua respectiva espécie dentro dos gêneros literários;
􀂃 Identificar procedimentos literários, como a intertextualidade, paródia ou paráfrase, e a metalinguagem;
􀂃 Identificar, dentro de textos em prosa e em verso, figuras de pensamento, de palavras e fônicas;
􀂃 Reconhecer aspectos formais e temáticos em textos literários em prosa e em verso – enredo, personagem, tempo, espaço, ação, narrador, clímax, desfecho, métrica, estrofe, rima;
􀂃 Associar texto literário a estilo e a contexto histórico-cultural da época.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE LITERATURA DO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO:

1. Texto literário e texto não-literário.
2. Gêneros literários; textos em prosa e em verso;
3. Estilo de época na literatura portuguesa: Trovadorismo, Humanismo, Classicismo.
4. Estilos de época na literatura brasileira: Quinhentismo, Barroco, Arcadismo.

Obras indicadas:


1- Luís Vaz de Camões: Episódios de Inês de Castro (Canto III) e do Velho do
Restelo (Canto IV)
2- Gil Vicente: Auto da barca do inferno.
3- Tomás Antônio Gonzaga: Marília de Dirceu.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE LITERATURA DO SEGUNDO ANO DO ENSINO MÉDIO:

1. Textos literários e textos não-literários.
2. Gêneros literários: textos em prosa e em verso.
3. Estilos de época na literatura brasileira: Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo.

Obras indicadas

1- O bom crioulo – Adolfo Caminha;
2- Quincas Borba – Machado de Assis;
3- Lira dos Vinte Ano – Álvares de Azevedo

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE LITERATURA DO TERCEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO:

1. Texto literário e texto não-literário.

2. Gêneros literários. Textos em prosa e em verso.
3. Estilos de época na literatura brasileira: Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-modernismo, Modernismo, Concretismo, Tropicalismo, Poesia marginal.

Obras indicadas:
Serão cobradas as mesmas obras pedidas pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Universidade de Uberaba (Uniube)

REFERÊNCIAS PARA A ELABORAÇÃO DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

- http://www.vestgradual.com.br/cp2007_1ano.pdf
- http://www.vestgradual.com.br/cp2007_2ano.pdf
- http://www.vestgradual.com.br/cp2007_3ano.pdf


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