sábado, 3 de abril de 2010

O que estamos estudando em Literatura?

Análise do livro "O Primo Basílio", de Eça de Queirós

Do Stockler Vestibulares*
Este "episódio doméstico", conforme o clas sificou Eça de Queirós, pretende mostrar a todos, de maneira exemplar, a tese da corrupção da família, vista como uma instituição burguesa, salientando-se a família da média burguesia lisboeta, que tem seus valores fundamentais atacados pelos escritores realistas.

Não vemos, contudo, consistência psicológica nas atitudes de Luísa, que é tomada pelo medo, e não pelo amor. Ela trai seu marido arrastada pelas circunstância, como se fosse um joguete nas mãos do destino, como se não tivesse domínio sobre si mesma. Machado de Assis chegou a recolocar, de forma irônica, a tese defendida por Eça em sua obra: diz que a boa escolha de criados é uma condição de paz no adultério.

Em princípio, Luísa, Basílio e Jorge são as peças do questionamento do casamento, que ocorre através do adultério, e constituem-se nos principais personagens da história.

Analisando-os, começamos por encontrar uma Luísa frágil, incapaz de agir e refletir, o que é atribuído, no decorrer da obra, de forma absolutamente naturalista, à ociosidade da vida que leva e ao temperamento romântico que mantém, constantemente alimentado pelas leituras de Walter Scott e de outros romances "água com açúcar", que lhe proporcionam devaneios, como no caso de "A Dama das Camélias", de Alexandre Dumas.

Assim, os sinais naturalistas já começam a se misturar aos realistas nesta obra. Notamos em Luísa, de um lado, a crítica realista à sentimentalidade romântica. Por outro, surge um certo esvaziamento psicológico, do qual brota um caráter que é colocado como móbil, inconsciente, cheio de deixar-se ir. Isso parece até um exagero das tendências naturalistas, que se mostram muito fortificadas nessa obra de Eça.

Basílio é mais um tipo do que, propriamente, uma pessoa, como ocorre com Luísa e a maioria dos personagens. Ele mostra a sua irresponsabilidade, o cinismo, a mania de grandeza, de ser superior a tudo e a todos, mantendo uma relação de uso com as mulheres e com o país. É um janota, um almofadinha, um homem classificado como maroto e sem paixão, que não apresenta justificação para sua tirania, já que o que deseja é apenas e tão-somente uma aventura, o amor de graça, como diz o escritor Teófilo Braga.

Jorge é marcado por uma personalidade pacata. É manso, dividindo-se entre seu papel de homem casado e o de engenheiro, diante da sociedade, e aquilo que sente de verdade, no fundo de si mesmo. Isso justifica sua truculência radical ao exprimir sua primeira opinião a respeito do adultério, sua aversão à vida desregrada que Leopoldina leva, sua cobrança, em relação à carta de Basílio, apesar de Luísa se encontrar extremamente adoentada. Por outro lado, ele muda de opinião e perdoa Luísa, devido ao desespero, pois não deseja vê-la partir desta vida.

Esses personagens típicos da média burguesia lisboeta somam-se a alguns personagens secundários. O Conselheiro Acácio caracteriza-se, de acordo com Eça, pelo formalismo oficial e representa o covencionalismo bem-sucedido, o vazio ou vacuidade premiada, na exata proporção em que carrega, além do título de Conselheiro, obtido por uma carta régia, também a nomeação de Cavaleiro da Ordem de São Tiago, justamente por todas as obras sem utilidade e supérfluas escritas por ele, como a "Descrição das principais cidades do reino e seus estabelecimentos". Já Dona Felicidade é a imagem de beatice boba, com seu temperamento irritadiço. Ernestinho retrata o azedume do descontentamento; Julião Zuzarte, às vezes, é até um bom rapaz. Sebastião, contudo, é considerado dono da força de um ginasta e da resignação de um mártir.

Outra marca naturalista de "O Primo Basílio" é a presença das classes socialmente inferiores, com sua aversão devastadora aos mais abastados. Aparecem Paula, o patriota, que detesta padres e mulheres, a carvoeira que é imunda e disforme de obesidade e prenhez, as estanqueiras, que têm um carão viúvo, personagens que servem de exemplo da vizinhança que cerca Luísa e Basílio. Além desses, temos a figura de Tia Vitória, que é uma ex-inculcadeira ou ex-alcoviteira, profissional na arte de orientar criados contra patrões. Empresta dinheiro aos que estão desempregados, guarda as economias daqueles que as têm, providencia que sejam escritas correspondências amorosas, para as domésticas que não estudaram, vende vestidos de segunda mão, aluga casacas, aconselha colocações, recebe confidências, dirige intrigas, entende de partos.

São estes, como frequentadores da residência de Luísa e Jorge, personagens secundários apresentados com traços de grande força naturalista. A expressão máxima deles, contudo, reside em Juliana, que mostra o caráter mais completo e verdadeiro do livro, o mais íntegro, inteiro, de acordo com a opinião de Machado de Assis. Da forma como se destaca no desenvolvimento do enredo, ela termina por ter que ser considerada um dos personagens principais, embora tal análise fuja da postura realista - uma empregada doméstica ser considerada personagem de maior importância na história.

Sintetizando os traços mais marcantes de Juliana Couceiro Taveira, devemos começar pelo seu suplício de estar servindo há mais de vinte anos, sem que se acostume a fazê-lo; não nasceu para servir e, sim, para ser servida. Passado azedume, do gênio embezerrado, para as desconfianças, a maldade, o ódio irracional e pueril pelas patroas para as quais trabalha, rogando-lhes pragas. Costuma cantar a "Carta da Adorada" e usar a expressão "récua de cabras", quando se entristecia.

Juliana é invejosa, curiosa, gulosa, e encontra, em casa de Jorge e Luísa, o grande segredo de que sempre precisou. Apossando-se dele, desforra na "piorrinha" - é assim que chama Luísa, ironicamente, toda a mágoa que acumulara no decorrer dos anos, inclusive a de ter conservado sua virgindade, a qual ela comparava com a "devassidão da bêbeda". A empregada tem um vício, que é o de trazer o pé sempre muito bonito, enfeitando-o com botinas e expondo-as no Passeio Público.

Essa personagem, enfim, é um claro exemplo da utilização do estilo naturalista bem-sucedido no livro, opondo-se à inconsistência de Luísa e de todos os outros personagens, que são excessivamente caricatos, modelares, exemplos sumários das teses da literatura do Naturalismo.

O foco narrativo aparece em terceira pessoa, e revela um narrador onisciente. Percebemos sua postura irônica, crítica, reforçando defeitos e vícios de certos personagens, o que não permite que seja imparcial.

O tempo é cronológico, com uma sequência praticamente linear. Surgem quebras, quando Luísa recorda o passado, passando pelo namoro com Basílio e o casamento com Jorge, ou quando o passado de Juliana é revelado pelo narrador aos leitores, a fim de que estes possam compreender melhor a revolta dela.

O espaço está concentrado em Lisboa. Os males que desagregam a sociedade são mostrados no romance. Surgem a decadência moral, a ociosidade, o relacionamento de superfície, o uso das aparências e das convenções, o tédio disfarçado pela aventura, os abusos da sexualidade, a hipocrisia, e assim por diante.

"O Primo Basílio" conta a história de Luísa, jovem sonhadora e ociosa da sociedade lisboeta, que acaba envolvida por Basílio, seu primo, com quem se reencontra, após anos de distância. Achando-a sozinha, já que Jorge, o marido, viajara a negócios, Basílio serve-se de sedução e galanteios, até levá-la a se envolver profundamente consigo, tornando-se sua amante. Juliana, a criada, descobre a correspondência trocada por ambos e chantageia a patroa.

Após sofrer muitas humilhações e ter que se submeter aos caprichos da crudelíssima criada, Luísa consegue, ajudada por um amigo, reaver as cartas; e Juliana, pressionada a entregá-las, ante as ameaças, acaba morrendo do coração. Após tanto sofrimento, Luísa adoece. Basílio, de há muito, encontra-se longe de Lisboa. Jorge regressa ao lar. Certo dia, chega uma carta do primo para a esposa e o marido intercepta a correspondência e toma conhecimento de tudo que ocorrera.

Desesperado e sofrendo demasiadamente, ainda assim Jorge resolve perdoar Luísa. Ela, no entanto, piora muito ao saber que o marido descobrira tudo o que fizera de errado, e vem a falecer. A reação de Basílio, ao saber da morte dela, é de pesar, por ter perdido sua diversão em Lisboa. Destaca-se, ainda, na obra, a figura do Conselheiro Acácio, amigo do casal, caricatura repleta de formalismo e hipocrisia.

A obra, um dos clássicos da literatura, é de Eça de Queirós.

Personagens do livro "O Primo Basílio":
  • Jorge - é engenheiro e trabalha no Ministério das Obras Públicas. Bonito, tem a barba curta, muito fina e frisada. Veste-se com gosto, aprecia a ordem. Não é muito sentimental, não vai a botequins, não faz noitadas com amigos, mantendo-se sério desde que era solteiro, em seus tempos de estudante.

  • Luísa - moça loira, tem olhos castanhos. Sua vida é muito vazia e torna-se uma mulher fútil. Até a chegada de Basílio, não carrega arrependimentos nem culpas. Está sempre em sua casa, apegada a sua leituras românticas. É amiga de Leopoldina, uma mulher leviana e devassa.

  • Basílio - é primo de Luísa e foi seu namorado, em tempos anteriores. Pedante, convencido, é cínico demais, aventureiro, conquistador. Os cabelos são pretos e anelados, mas já apresentam alguns fios brancos. Seu bigode é pequeno e lhe dar uma ar de coragem, orgulho e atrevimento. Sabe cantar bem e seduz com perseverança e experiência.

  • Sebastião - é um amigo íntimo de Jorge. É a única figura realmente boa e decente, dentre os que frequentam a casa de Jorge e Luísa. Conservador, tímido, acanhado, mostra-se um pouco antiquado para a época.

  • Julião - é um parente afastado de Jorge. Fala mal de tudo e de todos. É contra o governo, o sistema, a justiça do mundo. Quando recebe um cargo público, porém, as aparências se alteram. Torna-se então, um "amigo da ordem".

  • Acácio - é aparentemente sério, excessivamente moralista, contudo mantém relações sexuais com sua empregada. Importante é que se mantenha o sigilo desses seus dois lados, pensa ele, mantendo-se as aparências. Formalíssimo, educadíssimo, adora usar frases feitas;

  • Ernestinho: é primo de Jorge. Seu sobrenome, Ledesma, dá-lhe um ar ridículo, de lesma pegajosa. É pequeno, pálido, romântico, escreve seguindo o interesse do público. A peça "Honra e Paixão", escrita por ele, é um dramalhão de caráter romântico. De vontade fraca, não tem estilo próprio.

  • Juliana - personagem de peso, a mais complexa e elaborada de toda a obra, ela impressiona por sua vida interior. Magra, feia, solteirona, virgem, empregada há muitos anos, sente-se desesperada ao perceber que não terá meios para deixar essa condição de vida. Quer progredir, mudar sua posição social, e fica arrasada todas as vezes em que vê seus sonhos frustrados. Cada vez mais, azeda-se, odeia crescentemente.

    Em sua revolta, assim como na de Julião, existe apenas uma atitude pessoal, individualista, egoísta, de quem quer resolver os próprios problemas econômicos, progredir socialmente, sem preocupações classistas. Recebeu apelidos sugestivos como a "tripa velha", "a isca seca", "a fava torrada", "o saca rolhas". O determinismo marca-a, mostrando que não teria possibilidades de um novo destino, o que faz dela um exemplo de personagem negativista, pessimista, retrato do Naturalismo.

    AULA DE TEORIA LITERÁRIA

    AULA DE TEORIA LITERÁRIA
    MARCELO MACIEL DE ALMEIDA

    Dedicado à professora PhD. Joana Luíza Muylaerte Araújo

    Tua mais pura singela arte, aprendi a amar-te
    Teu perfume etéreo, indelével, está em toda parte
    Vivemos metamorfoseados em uma identidade cultural da pós-modernidade
    Joana, Ana, Luíza, muy bela arte

    Meu Complexo de Édipo, a construção de um eu profundo e outros eus
    Somos kafkianos, Gregor Samsa, dentre outros - vivemos na ilusão de uma completude
    Todos temos um coração delator, vivemos entre gatos pretos, somos filhos de Poe
    William Wilson, a sombra de um eu profundo e um outro eu

    Tua arte, teu amor pelo teu ofício, aprendi amar-te
    Um amor sublime, um amor fraterno, um amor entre dois amantes
    Quantas vezes pressenti teu perfume em outrem?

    Muy bel'arte, és prosa, verso e cinema
    Teu perfume impregna em mim, amo-te sem limites e pudores
    Muy bel'arte, bela a arte, Muylart



    sexta-feira, 2 de abril de 2010


    LES ENFANTS
    Marcelo Maciel de Almeida

    Ah, que saudades de minha infância querida!
    Que os tempos não trazem de volta, mas não saem de minha memória
    Não havia Internet, sequer tinha eu um PC
    Brincávamos de bola na praça do quartel,
    Esconde-esconde na vizinhança, pique-pega e outras infantilidades


    Infantilidades, mas não futilidades
    Não havia mp3, mp4 e o diabo a quatro
    Nem se sabia o que era um celular
    Ah, que saudades dos meus tempos de criança!


    Que saudades eu tenho do meu Atari,
    Dos campeonatos de Decathlon
    Não me acostumo com os novos video games
    Saudades das canções infantis, quantas saudades de minha infância querida
    Balão Mágico, Arca de Noé, Xuxa, Trem da Alegria, Saltimbancos...
    As músicas eram realmente para crianças

    Meu irmão nasceu já com a Internet
    Não o vi brincar na rua como eu o fiz outrora
    Que saudades eu tenho de minha infância querida!
    Dos vinis que já não ouço mais, pois a vitrola não há mais

    Voltar a ser criança, sempre
    Ouvindo compact discs dos antigos vinis
    Não perdendo o tom pueril na já segunda idade
    Não deixo de ser criança

    Saudades de meus amigos vizinhos
    Muitos mudaram-se, mas ficaram na memória

    Saudades do meu skate e dos tantos tombos
    Da minha bicicleta, que hoje ainda tenho

    Minha mãe me diz que sou criança
    Isso não me envergonha
    Não quero deixar de ser criança
    Espero ainda um dia que o mundo volte à sua infância!

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