terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

INTERTEXTUALIDADE



















Cindy Sherman começou a fotografar-se em poses estereotipadas e por volta de 1980 iniciou uma série muito interessante a que chamou retratos históricos onde citou pinturas famosas de vários artistas. Neste exemplo Sherman "copiou" uma imagem de Baco pintada por Michelangelo Merisi, vulgo o Caravaggio.


LÍNGUA PORTUGUESA
Olavo Bilac


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


INCULTA E BELA
Marcelo Maciel de Almeida
(Tempus Vernum) - Publicado no Templo XV em 21/7/2004


Já não és mais a mesma flor do Lácio, minha doce Inculta e Bela
Será que reservam-lhe a sepultura?
Tantos empréstimos vão fazendo-te impura...
Mas para que tantas metáforas desgastadas em minha tela?

Conheço pouco de ti, mesmo assim amo-te velada
Para que versos medidos como se fossem matemática,
Pois eu prefiro mesmo é a gramática
E esse enjambement é minha face truncada

Já não tens mais o mesmo viço agreste
Das virgens donzelas da doce Lira romântica de Azevedo
No entanto, amo-te!!! Ou será te amo?

Enriqueceste com tantos empréstimos, com tanto ouro?
Quem disse que és de Camões, povo lusitano?
Gênio é teu povo brasileiro que a ti lhe dá o grande louro!

Observando os dois textos acima, percebemos que há uma relação dialógica entre ambos, ou seja, o texto "Inculta e Bela", da autoria de Marcelo Maciel de Almeida, cita o texto "Língua Portuguesa", de Olavo Bilac. A esse fenômeno, no qual um texto faz referência a um outro, chamamos de intertextualidade.
Grosso modo, pode-se definir a intertextualidade como sendo um "diálogo" entre textos. Esse diálogo pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica na identificação e no reconhecimento de remissões a obras ou a trechos mais ou menos conhecidos. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem dos textos/ contextos em que ela é inserida.
Evidentemente, o
fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento de mundo", que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos.
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
"Quando um texto de caráter científico cita outros textos, isto é feito de maneira explícita. O texto citado vem entre aspas e em nota indica-se o autor e o livro donde se extraiu a citação. Num texto literário, a citação de outros textos é implícita, ou seja, um poeta ou romancista não indica o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a respeito de obras que compõem um determinado universo cultural. Os dados a respeito dos textos literários, mitológicos, históricos são necessários, muitas vezes, para compreensão global de um texto.” (Platão e Fiorin)
Na
pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, já o trabalho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos mais tarde. Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um tipo de intertextualidade na pintura.
Na
publicidade, por exemplo, em um dos anúncios do Bom Bril, o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Leonardo da Vinci e cujo slogan era " Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima". Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e mais perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci). Nesse caso pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc).
Pode-se destacar oito tipos de intertextualidade:
Epígrafe - constitui uma escrita introdutória a outra.
Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas.
Paráfrase - é a reprodução do texto do outro com a palavra do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte.
Paródia - é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Ela perverte o texto anterior, visando à ironia,ou à crítica.
Pastiche - uma recorrência a um gênero.
Tradução - a tradução está no campo da intertextualidade porque implica em recriação de um texto.
Referência e alusão


Referências Biliográficas:
Sítios eletrônicos:
http://www.brasilescola.com/redacao/intertextualidade.htm (Brasil Escola - Redação - Intertextualidade)
http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/181485 (Recanto das Letras - Intertextualidade para Vestibulandos)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Intertextualidade (Wikipedia - Intertextualidade)
Livros:
• Para entender o texto – Platão & Fiorin, Ática
• Literatura Brasileira- Milliam Roberto Cereja , Thereza Cochar Magalhães
• Língua, literatura e produção de textos – José de Nicola

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